outubro 29, 2005

São os olhos de um poeta louco que contempla a noite...

Vivendo pelos pertences jogados na estrada do viver, as migalhas de sentimentos são os alimentos. E já foram um banquete de pássaros e humanos, regados com a pura lira e o concerto bonito de números aleatórios. Identidades queimadas, vidas arrancadas, desespero anatômico. Talvez se o amor não fosse o regente-mor existiria a alegria como parceira. E mesmo assim o caminho continuou, intenso e uniforme, com todas as características aquém universo. Medidas, paradigmas, fotos e vinil. Do acervo romântico não tinha espaço para mais nada, completo e saturado. Todos amavam demais, eram românticos demais, poesias demais... Mas faltava um pingo de realidade, um pingo da pinga mais artesanal. Faltava o choro do não correspondido, o choro da despedida quando se estava só, o platonismo imperial... Faltava um pouco de vida no mundo. As cores eram alegres, mas existem as cores tristes. E foi ali que começou a angústia... A saudade de sofrer, de viver e não saber se está certo ou errado... Começou ali a desmoronar a, até então chamada, linda perfeição. Nem deram atenção... Somente pelo fato da embriaguez acentuada, da cegueira nos olhos e de nunca ter entendido realmente o que fosse amar. E mais um canto enterrado com vida digna, no mundo de imagens alegres onde a tristeza é vista como demônio e repudiada da existência alheia. E o poeta ficou no caminho alimentando-se da sobra do mundo cartesiano.
Melancholy Sickness

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