novembro 11, 2004

E poeta desvairado queria ser...

E fui, completamente apaixonado pelo amor e pela sua intensidade. Apaixonado pelo perfume do mundo, do platonismo, dos sonhos que fazia. Sonhava todas as horas que meus olhos piscavam e a cada nova imagem o mundo se transformava com seu doce perfume e harmonia. Iludido e sonhador, platônico e chorador, romântico e cantor... Tudo eu quis e tudo eu fui! Anos e anos, de pura lira interna livre. Anos e anos de felicidade brotando de leves odores do meu corpo... Que hipnotizavam minha mente, me guiando por vales perigosos mas alegres! E fui... Com tudo isso... Preferia não ter conhecido, não ter escrito, não ter cantado, não ter sonhado, não ter ouvido, não ter visto, não ter tocado, não ter beijado, não ter abraçado, não ter acariciado, não ter ajudado, não ter tido... Como tive, como ajudei, como acariciei, como abracei, como beijei, como toquei, como vi, como ouvi, como sonhei, como cantei, como escrevi, como conheci... Com tudo isso ganhei de brinde a dor, o rancor, o ódio, a tristeza, a angústia, a culpa, o pesadelo, o sono, a depressão, a ilusão, a traição e o engano da vida... E assim caminhei por entre tudo. Quando só queria escutar doces canções, acabei escutando meu soluços de choro pesado. Quando desejei ter a felicidade, confortei o frio implacável em meus braços sedentos. Quando só queria um único momento, ganhei a solidão dura ao meu lado. Quando eu queria apenas algo para lembrar, ganhei a perda da minha vida, da minha alegria, do meu porque de existência. Quando eu só queria uma única pessoa, ganhei dezenas de textos pesados, tristes, escuros e, realmente, sem um pingo de vida. E é isso que fui... Um pobre poeta, desvairado e iludido... Tudo que eu nunca quis ser.

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