Eu era descrente em um ninho montado. Era um cego poético, com meias palavras soltas, sem rima ou anedotas, em meio a pétalas de prazer. Era um daninho sem história, que respirava por osmose e não sentia nada além da normalidade. Então me cortei com abstrações indevidas, com passos largos de um rouxinol em conto de fadas. Sangrei um acre veneno cor de destino, sangrei aquelas indefinidas canções esquecidas e infinitas... Sangrei para uma morte lenta e, como não sabia o que era o viver, foi indolor. Desmanchei o buquê das promessas, poetizei um cartão de visitas inexistentes e comecei a rimar o inconsciente. Entre cavernas e penhascos, entre chuvas e granizos... Criei o inevitável, o maléfico, o imperdoável e o santificado. Juntei conjunções destruídas, preposicionei os amargos extintores de vida... E quando, em escala menor e disjunta, consegui respirar pela primeira vez, avistei ao longe a bela de branco, o sorriso encantador, os olhos brilhantes e o perfume suportável... Algo concreto, que com olhos enxergava e nem com a mais doce e profunda inspiração, conseguia rimar abstrata. Ela existia, era real e se movia, delicadamente, sempre ao longe... Passei sempre a observar e ali, com minha respiração, comecei enfim a amar...
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