janeiro 31, 2012

Um trovadorismo clássico…

E a pergunta foi lançada como chama: "E se você vivesse sem o infinito da descrição?". A garganta secou no momento da resposta, as mãos tremeram, os olhos perderam o foco e o chão pareceu sumir perante o horizonte. Se me tirassem o infinito, como eu iria sobreviver? Como eu teria o encontro de imagens que se transformam em linhas, que viram estrofes e depois terminam como rimas ancestrais? Como eu teria o sabor de um beijo, que personifica uma joia, que é lançada pelos mares, que é enterrada como tesouro e só consigo descobri-la através dos meus sonhos? Como eu poderia brincar com palavras, com objetos inanimados, com tintas escuras e borrões claros? Não teria a abstração companheira, não teria a paixão queimando meus sonhos, não teria o platonismo regando este imenso jardim e teria meu quintal desfigurado. Não teria um caminho para seguir, não teria nada... Mas limpei a garganta e respondi: "Seria o poeta do novo, do acaso, do estribo mais chocante e do irreversível caminhar. Cantaria em novos ritmos e faria novos sonetos. Tudo, tudo e tudo pela simplicidade de amar e mover meu corpo, para o desconhecido encontro da morte em vida, do amor no suspiro mais cadente e de ver pulsar um sangue que só é meu pela força absurda de sonhar".

janeiro 28, 2012

Com seus olhos eu jamais mentiria...

E se ela me perguntar não terei como mentir minhas vontades. Não terei como encobrir meus sonhos e meus desejos por ela. Não terei como desconversar quando ela perguntar aos meus olhos se eles enxergam outro futuro sonhado. Como também não vou mentir quando ela perguntar se meus versos não se inspiraram nela, pois todos são sobre seu brilho, seu jeito e minhas lembranças, mas se banham nesta solidão repentina que me fere a cada instante. A mesma solidão que me enclausura, me traz as belezas de rimas e imagens poéticas. A mesma angústia que me acorda pelas madrugadas, é a mesma que acalma meu coração pensando em como seria bom o seu toque e sua presença colada em minha mão. A mesma ponta final que me cala e me lança na mais dolorida escuridão, é a mesma ponta que se transforma em luz e abre todas as portas da minha vida para receber este amor. Talvez um platonismo explicasse tamanho jogo de extremos, mas me cansaria de procurar esta definição em seus livros. Prefiro poetizar para minha amada, ela existindo ou não, a forma tão grandiosa que meu coração proclama esta paixão.

janeiro 24, 2012

O céu é infinito pelo fim...

Pelo fim que você desenha em seu rascunho. É o fim conhecido de uma caminhada que nunca começa. O céu é um infinito com uma equação exata, onde a vida e sua felicidade são constantes conhecidas e com valores dentro de um curto limite. Não existe a fórmula para alongar, não existem caminhos para se pegar. Não existem marcas, melodias conhecidas, significados desconhecidos, brilhos de uma mente fixa ou atalhos pintados de cores complexas. O que lá existe são momentos irreconhecíveis e com complicadas tentativas de descrição. O que existe são sorrisos abafados e boquiabertos corações desvairados de uma tempestade de verão. Existem conchas que contam histórias e que trazem a maré no seu ponto mais alto e refrescante. Existem fragmentos de vida de todas as formas, espalhados e se juntando com suas principais características. Existem os momentos desenhados, ditos perfeitos, que logo desbotam por conta do sol que nunca aparece das montanhas. Existe também, perdido em algum lugar longe de tudo, o eu e você. Aquele objetivo traçado, aquelas promessas rarefeitas e aquela história que eu desenhei um fim e antecipei a ida ao infinito. Ele está lá e um dia talvez eu vá buscar o que sobrou deste capítulo perdido...

janeiro 17, 2012

Um dia eu vi seu aceno em meu caminho...

Eu guio pela estrada de sempre, guio com o vento em diversos estados e com cores de velocidade alternadas. Guio pelo som que me chega, guio pela liberdade mais alta. Guio no ritmo de um solo conhecido, de um conjunto de acordes qualquer e até pelo refrão batido. Guio por não ser guiado, guio para nunca encontrar e até guio para me lembrar. De fases, de praças, de paradas, de reviravoltas, de amores, de cartas, de um beijo adormecido, de um sorriso torto, de um olhar arrependido, de um abraço e de uma risada. Guio para viver e até guio para morrer. Em uma curva de guerra, na ultrapassagem estreita, no acelerar definitivo. Luzes acesas, destino conhecido, novos caminhos, uma missão e um amor que pulsa toda uma inspiração. Foram centenas de vidas guiando para resumir, a pequenas palavras, o desejo que ficou perdido naquele ponto que já nem lembro mais que existiu. Tudo aquilo se perdeu como promessas fracas, beijos secos e enlaces corrompidos nos caminhos que já guiei.

janeiro 13, 2012

De uma reviravolta triste...

Uma brisa amarela me banha como o sol. Os sonhos começam a se dissipar, mas você ainda pertence à minha mente. Te vejo, te sinto, em tudo. Na falta, na distância, no não estar e neste silêncio. Acordo e vejo ao lado sua parte esticada e envelhecida por um tempo distante. Hoje vejo que tudo se foi como um pó delicado. Hoje eu me questiono se alguma vez você esteve aqui por perto ou se foi apenas uma doce ilusão de um perfume tão parecido que se personificou em mim. Hoje eu já me perco nos questionamentos se deveria ter te amado tanto quanto minhas poesias falaram. Hoje eu só queria ter um abraço completo, algo que me fizesse sonhar de olhos abertos e lacrimejar uma vasta dimensão. Hoje eu só queria um aperto de mão para pelo menos lembrar qual seria a cor que ficaria em mim após seu toque. Hoje eu só queria acordar sem o grito costumeiro de todas as manhãs...

janeiro 06, 2012

De tanto lembrar eu quis te esquecer...

Lembrando as estrelas que soletravam seu nome todas as noites que passava admirando este infinito. Lembrando os gostos acres alcoólicos que me guiavam por frases soltas, ritmadas e com rimas tão fáceis que colavam no meu coração. Lembrando toda aquela espera por algo que nunca aconteceu, uma ligação, um beijo roubado, uma dança descompromissada ou um pedido de amor. Lembrando seu brilho encantador, você bela correndo com a brisa perfumada, com a delicadeza certa do momento. Lembrando cada vez que fitei a escuridão, buscando razões, traçando caminhos e planos com tanto sucesso, que viraram fracassos. Lembrando como era fácil descrever, como meus olhos enxergavam a beleza pura de algo que não existiu. Lembrando tanto, cada parte da maneira certa, que passei a acreditar que tudo não existiu e que não passou de um sonho completo, de algo que te tira o fôlego, mas te retiram as memórias. Se eu tivesse um último pedido, este seria para apagar todas as suas lembranças de mim e todas as marcas que você deixou em meus braços estendidos para o canto vazio.

janeiro 04, 2012

Dos doces deixados ao sol...


Deserto seco e repugnante. Cheiros confortáveis buscando um tato diferente em meu coração. Envenenado por horários inversos, que bailam em preces de meia idade, uma marca perdida no salão principal que saiu de cena cedo demais, perdendo o espetáculo como uma fumaça. Uma limpeza em meus pulmões aconteceu no momento que deveria ser certo pela última vez. Um momento de clareza é varrido da minha mente, como uma salva de palmas surdas e as vaias tomam conta de minhas poesias, meus pesadelos se encarregam das minhas muitas últimas chances. Eu tentei te ligar, mas os números voltaram para o pó inicial, sendo sugado pelo aspirador de porcelana que vive pendurado na parede do telefone. Tchau, adeus, até mais e espero nunca mais te ver foram as promessas rabiscadas atrás de uma fotografia sem um rosto desenhado. Esperei que a próxima canção me trouxesse lembranças que nunca aconteceram e me contasse uma história que não fosse documentada. Faça-me girar por planetas buscando apenas a faísca que me transformará em um mendigo de atenção. Vários papéis para um mesmo rosto fazem o cansaço principal esbofetear a sanidade e a televisão está ligada novamente no mesmo canal estático...