janeiro 23, 2010

Lançados dados no orvalho da sorte...

Diga para a ela que eu estou bem, que meus olhos se cansaram de esperar na mesma janela, dias inteiros, o carro azul chegar para poder sorrir. Que me cansei de sonhar com um endereço de uma cidade grande que pudesse estar meu futuro promissor. Diga que eu não ganhei fama ou nada com os versos endereçados e que fui virar poeta depois de muito tentar e que consigo não mais associar a banda de rock que era a predileta por ela... Diga para ela que eu consigo sorrir, que todos os textos que fiz durante as noites, serviram para eu ver o quão distante estamos e impossíveis de juntar. Que todas as noites em claros serviram para eu ver que cansado amo bem menos. Diga que todas as vezes que falei que amava ficaram guardadas em mim, porém endereçei elas para um desconhecido qualquer da rua, para que ele pudesse, encontrá-la naquele lugar e ocupar o posto que sonhei durante anos ser dono. Diga para ela que parei de sonhar, que todas aquelas horas no telefone congelaram meu coração que pulsava para o impossível. Que os momentos foram curtos e rápidos, assim como a morte durante o sono. Diga que minhas caminhadas serviram para conhecer o meu mais profundo sentimento e que, apesar da minha mínima idade, eu jamais seria o maior amor da sua vida. Diga para ela que não aceitei mais pedidos, que sei distinguir impulso de verdade e que minhas poesias sempre foram melhores abstratas. Que apesar da peculiaridade, a verdade e sinceridade sempre prevalecem em um mundo perfeito. Diga que eu percorri caminhos demais e sei que minha maldição é terminar só, afogando sentimentos e ganhando a doce solidão como prêmio final de um crime perfeito. Diga para ela que não sou tão igual quanto ela pensou, ou até possa parecer. Que meu sorriso não se incha ao vê-la e que tudo que passou, nesse meio-tempo gigante, pode ter ficado na história de um livro esquecido, folheado e guardado com estranheza. Diga que eu tive muitas idas e vindas e que as fotos borraram a parede lisa da minha vida. Depois de tudo, se alguma me procurar, diga que sei que fico sozinho, não por escolha ou destreza, porque sei que sempre vai ser assim, mudam-se os amores, pessoas e até as promessas, mas permanece o olhar único que congela, que inflama, que ama e que odeia... Aquele bendito olhar que pula de pessoa para pessoa, que atravessa épocas e não envelhece, que sabe que quanto mais você mude, ele jamais vai mudar pois será sempre notado. O olhar que hoje fujo e corro distante, o olhar que diz tanto sobre mim como se me conhecesse há tempos... E ele me conhece, muito mais do que eu gostaria, pois ele é o olhar do amor.

janeiro 12, 2010

Frustração guiada para a descrição...

Titularizar um poema abstrato que traga a evocação e resumo necessário. Flertar com rimas inexistentes, deixar a modernidade de um piscar de olhos guiarem o ritmo de uma dança fúnebre e carregada de sentimento... Caminhos traçados aos quatro ventos mundiais, inspiração que chega como um telefone amarelado da espera. Mãos atadas com nós invisíveis que frustram todo o amor latente. Cenário talvez impossível de se imaginar ou montar, porém vivo no coração de um poeta desconhecido, perdido e insolente, que utiliza sua lira, seu doce brincar, como forma de expressão e alimento. Sabe que carrega um espírito trovador dentro de si, com facilidades de cantigas e sonetos menores... Frustrado! Como sempre foi e como sempre será... Buscando em cada aurora reconhecer seus pontos comuns, reconhecer a origem de sua dor e seus desejos. Onde foi que iniciou sua jornada, razão da sua tortura, e onde que está o último capítulo... O desfecho de uma odisséia sem personagens ou enredo. Caminhou por entre montes conotativos, bebeu das chuvas que fizeram desgraças, sonhou com estrelas que queimavam seus olhos e tropeçou em jargões tontos e feitos. Procurou em pedras e pergaminhos, procurou nas escrituras e nas flores... Desistiu de encontrar sua missão e então, já alucinado com as possibilidades, decidiu que iria transcrever nos livres caminhos a incerteza do nada... Virou o silêncio do escuro.

janeiro 08, 2010

Morremos na tentativa do nunca...

A escuridão ganha um movimento estranho quando me pego pensando em você... As alternativas se esvaziam de um mundo paralelo e no horizonte brotam todos os sonhos que talvez tenha tido com você. Minhas histórias se confundem em um gotejar de oportunidades nunca assumidas pela razão. Esvaziado pelo parecer absoluto, me ponho a vasculhar se você não passou de mais um sonho etílico, desgarrado e ordinário, que ganhou vida em minha mente devastada. Se fosse para dizer qualquer coisa me perderia nas linhas que já escrevi, sóbrias ou não, completamente entupidas de adjetivos atormentados. As cores mudam de órbita, ganham um peculiar som de tristeza e desenham um sorriso perdido no céu negro... Em números me perco e multiplico tesouros inventados. Desenho mapas frustrados e escondo um dicionário de razões para ter você nesta loucura. Mas agora, a pintura principal de uma exposição visitada me mostra a mais terrível denotação... Você é a pérola perdida em um mar que um cruzeiro levou.
O prazo de validade venceu...

Nossos olhos não se cruzam mais... As palavras, antes doce, transformaram-se em imenso silêncio. Como aconteceu em outros tempos, me sinto um desconhecido lembrando de algo tão bom que é impossível dizer que foi real. Sua voz sumiu da lembrança e não posso mais dizer que era doce e sincera. O tempo passou e, pelas dificuldades alheias, fomos nos separando como duas peças nunca encaixadas... E os dias, que lembrava tanto, viraram "outros dias"... E pela solidão e sua ausência me faz questionar se foram reais... Os olhos em lágrimas, a caneta falha, a fome surpreendente são simples sinais que estou vivo na imperfeição e as marcas de um vidro fazem menção a um dia perdido em uma longa e distante estrada... A estrada que sem saber percorri pensando em você.

janeiro 04, 2010

A folha machucada transcrevia emoção...

Dedos entrelaçados em um futuro de propostas, lágrimas indecifráveis contando os minutos de um tempo que já não era senhor, nem tampouco, inspirados na odisséia de contar... Era ouvida uma canção ao longe, conhecida e com batida abafada, mas com outro refrão que dedilhava a mudança. Idéias marcadas de outros autores coroavam o momento e decoravam a parede do único cômodo com vida... Cores! Muitas cores formando um batalhão de claro e escuro... Misturadas ou aglomerando-se em um mar de hipóteses, certas ou erradas, vitais para seus dedos. Existia a folha no canto limpo da escuridão. Marcada e sofrida, dobrada e sofrida, rabiscada e sofrida... Nela se existia um único momento, era aquele que se perde no contexto para ter um fim... Aquele momento que, de tão carregado, experimenta o abismo primeiro de emoção e não volta ao seu estado normal. A folha tentava, em vão, ajudar e organizar... Mas existiam ali amor e sonhos tão complexos e abstratos que ao mexer eles evaporavam para uma nova mente... Um novo estágio de comoção. Não era nenhuma poesia perdida, muito menos um conto romântico ou um épico triunfal de algum herói desconhecido e manjado. Nas poucas linhas completas e nas palavras carregadas, existia ali simplesmente algo impossível de dizer, mas que todos conhecem e correm da sua existência... Existia ali, na sua inteira simplicidade, a angústia da dúvida.

janeiro 03, 2010

E tudo traduziu com o verde...

Se fosse para lembrar uma imagem, seria do seu sorriso. Se fosse uma razão, seria da água. Se fosse um momento, seria seu "Oi". Se fosse um som, seria da sua risada. Como compromisso, minhas chances se perdem ao dançar ou passam pelos corredores infinitos. Seriam quatro números e uma vírgula de uma história que não foi contada. As palavras fogem de uma descrição melhor e a minha razão se perde em não saber o que seu olhar quer dizer. Me perco no triste fim de um nunca, me perco em um silêncio ruim que não posso gritar para preencher. Todo o balanço não é capaz de me tirar do lugar, e, assim, sem soma ou subtração, continuo contemplando um olhar perfeito que é o seu...