fevereiro 28, 2010

Abstração e Não-Lucidez...

A viagem ganha um mundo paralelo. Companhia diária importante, o álcool começa a ser mostrar fraco para o desenvolvimento do sentimento e novas, e até então proibidas, substâncias são utilizadas. Elas afloram a mente e criam um paralelo que pode ser logo sentido nas primeiras linhas das leves brincadeiras. São jogadas ao vento palavras desconexas, que vão ganhando significado perante o caos supremo. A abstração vai aos poucos se tornando a maior parte da nossa mente e, cada vez mais, pede combustível para permanecer viva. Dia após dias ela ganha terreno mental e não conseguimos mais distinguir os paralelos que criamos. Alguns conseguem o controle quase total e só desenvolvem a parte abstrata do amor, outros se perdem no novo sabor e passam as horas de vida brincando com o concreto. Como o amor é complexo demais para descrevermos, a nossa abstração quebra a dificuldade de síntese com outros elementos. Abstraímos da respiração ao pulsar, do sorriso mais belo ao vento gélido da solidão. Entramos totalmente em um labirinto emocional que muda constantemente seus caminhos. Em leves clarões vemos seus resultados, porém, no instante seguinte, tudo é alterado e o jogo de palavras volta com novos significados. Vivemos neste parque de diversões das idéias, com suas charadas e suas adivinhações. Experimentamos o extremo de significados possíveis e impossíveis. Figuras transformando-se em sons, paisagens declarando todo seu amor em hinos irreconhecíveis, personagens perdendo a vida por olhares personificados. A pureza sendo envenenada na mudança de linha e o perdão mais puro aprisionando para sempre o eterno apaixonado. Todo este caos em linhas é o trabalho que resulta de uma mente perturbada, vivendo em outra realidade, com outros rumos e sem dificuldades. Assusta em seu início, mas vai ficando menos acre com o passar do tempo. E o que antes causava perturbação, ganha um sorriso leve ao final. Após um tempo indeterminado, deciframos todas as curvas existentes, dissipamos toda névoa causada pelo amor e sua descrição é vista em todos os rostos e textos dos viajantes. Porém, como uma brincadeira sem fim de uma terra incompleta, uma nova ponta nos é colocada, não sabemos se por culpa da abstração extrema ou da complexidade do amor, acabamos por viver cercados da Personificação dos Sentimentos...

fevereiro 12, 2010

Habitantes do Platonismo...

Nos é mostrado um mundo de sonhos perfeitos e caminhos perfumados de paixão. Jardins repletos e fartos, com a temperatura ideal para se apaixonar por todas as circunstâncias. Caminhando um pouco além, descobrimos que é só a fantasia que nos é mostrada. Alimentamos uma fome gritante, mas que jamais se mostra fim. Vivemos nos sonhos repletos e quando sonhamos com o realizar, nosso peito inflama e caímos novamente no início deste mundo. Redundâncias perfeitamente acentuadas! Lua e estrelas, nossas companheiras de túnel, tornam-se nossas melhores amigas, pois passamos madrugadas inteiras gritando a angústia do quase, a infelicidade da falta de perfeição e cantamos o nosso amor não correspondido. O álcool vira nosso combustível de vida, vira o sol de nosso mundo, pois não conseguimos viver sóbrio com a perfeição sem fim e nada real. Vivemos para nos embriagar e, desta embriaguez, soltar nosso lado de fantasia para tentar aguentar toda essa redundância. Seu doce e acre destilado infla nossas veias com a inspiração embriagada e fazemos poesias para a mais perfeita bela do mundo. Com todas essas poesias coletadas pela pureza do sentimento, durante dias e dias, criamos um jardim repleto da arte romântica e alcoolizada. Em nossas andanças madrugada adentro, escrevemos um rio de poesias, provas e juras eternas de amor, porém elas se calam ao amanhecer e ao fim das nossas forças. Essa infinita espera do nunca deprime e acentua a angústia. Em flashes com o mundo de nossa amada é quase impossível segurar a razão, uma loucura latente nos invade e perturba ao ver todos os nossos sonhos ruir como areia ao encontro do mar da realidade. Conhecemos os diferentes sabores da derrota e sabemos identificar todas as suas personificações. Quando estamos conectados ao mundo real, queimamos em seu inferno e nossas poesias, tão trabalhadas e verdadeiras, são as laminas que nos cortam e nos jogos novamente à fantasia e sonhos. Esta constante não realização de sonhos faz nascer, depois de muito sofrer, dúvidas da nossa capacidade. Dúvidas que tatuam nossa pele para tentar entender como o amor, vivido em nossa maneira tão pura, é capaz de ser tão injusto e diferente fora do mundo das idéias. Há os que ficam pelo caminho dos dias infinitos da solidão e do álcool e há também os que migram para outro estágio, o estágio forte da Abstração e Não-Lucidez...

fevereiro 07, 2010

O Túnel da Solidão...

Frio e implacável, úmido e convidativo, descritivo e conotativo. Colorido recheado de escuridão, em suas paredes carrega as marcas de seus passageiros... Recheadas de gritos, angústia, poesias, frases soltas e amor. O amor existe em seu mais perfeito estado de espírito. Cada caminho trilhado contém seu doce perfume. É na solidão que o amor consegue seu auge, na solidão que o amor rege seu sentimento e personifica-se em personagens diversos: pinturas, canções, letras, rimas e risos... Todos os elementos da inspiração fluída do amor. A pura inspiração destemida e ilícita do amor. Inspiração que expira o entorpecimento proibido. O entorpecimento das mais impuras naturezas, desde pílulas, cartas, comprimidos e sonetos até gotas, redondilhas, picadas e refrões. Doce impureza que arrasta madrugada adentro para um impossível desfecho. Sabe escolher para cada momento a melodia certa, a certeza da estrofe perfeita e nos faz cantar. Rasga-nos o peito e explode nossa garganta com sua lira, seu tenebroso veneno. Seu ilusório cantar. Perdemos os sentidos e as forças, vamos ao encontro das diversas loucuras em nome do nosso amor, ou quem ele tenha escolhido nestes meses tortuosos. Traçamos o plano perfeito, sonhamos acordados com o perfeito momento. Nunca nos importamos com a negação, pois ninguém pode negar o amor! Não o verdadeiro amor e nunca o maior amor que infla nosso peito. Tentamos descrever em palavras o que arde em nosso interior, mas procuramos este sentido em folhas inexperientes e sem significados, pois só quem é passageiro ou percorreu estas estradas consegue entender o que é viver isto intensamente. Suspeitamos de tudo e de todos que se dizem experientes, pois nosso sofrimento nunca se compara ao de ninguém. Luas e estrelas são testemunhas de nossa crescente angústia, de nossa terrível jornada. Só elas conseguem suportar quando avistamos o fim do túnel, o fim da jornada e realização do nosso amor, a resposta de nossa crescente dor, só elas conseguem nos suportar quando finalmente iremos desfrutar de toda a paralisia das nossas engrenagens. Neste fim é que conseguimos saborear o amor em seu mais profundo gosto, na sua mais profunda pureza... Sonhamos com este momento, com suas cores e cheiros singulares, com suas músicas cadenciadas e luz indescritíveis. E está ali, bem à frente, na saída que sonhamos durante dias incontáveis. Finalmente os últimos passos dentro do túnel que nos mostrou tudo com mágica e sabedoria. Ao primeiro passo, sempre dado em falso fora do túnel, descobrimos que mudamos de mundo e somos os mais novos Habitantes do Platonismo...

fevereiro 06, 2010

Dias a velas acesas passando...

Trapos e cacos de um caminho perdido se juntam no chão empoeirado. Tudo que podia lembrar você abstrai-se como a chuva repentina. Caem gotas silenciosas neste carrossel visionário. O álcool, que era para regar uma alegria, tomou conta do sangue e desenhou em minhas veias um pequeno abismo infinito. Um ponto verde, abaixo da língua adormecida, reluta os fatos jogados na praia de pedras. Rastejo para algo concreto neste oásis e vejo apenas um livro despedaçado. Logo me aprumo e vejo que livro conta uma história conhecia e surreal, divertida e piegas, com alguns personagens domesticados por todos. Seu primeiro capítulo, em letras miúdas que cobrem toda a extensão da página, sugere o início: O Túnel da Solidão...

fevereiro 05, 2010

Alguns dias eu venho concreto...

Minta sobre um destino que não te escolheu, um caminho que te foi fechado para sempre. Minta sobre as opções que fez e as lindas feridas que proporcionou... Minta sobre como deixou o coração alheio e minta também sobre como consegue mentir. Produza todos os seus feitos com a beleza noturna que nunca lhe foi característica. Seduza o orvalho perfeito e encha-se do seu perfume. Dê risadas abafadas, toques singelos e olhares perdidos. Crie a sua fantasia e faça disso uma poesia desconexa, falsa e sem nenhum sentimento. Jogue palavras ao vento e se enquadre em algo único e peculiar. Dance uma lira desconhecida, cante a ópera criada e faça da sua vida um teatro de fantoches vespertino. Porém quando todos se enjoarem e você não conseguir mais fingir o que é, chore! Chore as lágrimas inexistentes, mostre um choro confuso e sem voz. Nunca um choro daqueles enjoativos, recheado de pedidos e compaixão com um sofrimento inculpável. Culpe, fira, destrua e prometa... Simples jogos insolúveis que você proporciona. Engraçado como a inspiração transforma o sofrimento em prosa livre, transforma um aperto em parábolas construtivas... Engraçado é ver que, após tudo isso, você morrerá sozinha no caminho que sempre quis estar.

fevereiro 01, 2010

Com a cor branca de um rocheado...

Trabalhado o olhar correto em um momento inusitado, com todas as imperfeições características e um clima impossível de se notar. A inspiração falta e a construção pede à imaginação que venha fértil. Que venha e traga, junto ou em partes, o doce orvalho da tentação... Do impossível esquadro, das páginas usadas e do rascunho vislumbrante. As histórias se perdem, o olhar não passa de uma fachada esculpida em algo frio e o doce sereno enrola-se noite adentro. Situado como um jargão não utilizado, guardado com a vergonha alheia e a piedade de um sonho que nunca se concretiza, nunca vira algo diferente de um sonho. Redundâncias e brincadeiras jogadas ao vento singular e cortante... Frio como sempre, frio como um olhar que não responde as investidas e congela, para um todo sempre, um coração latente...