outubro 31, 2011

Como sinalizadores caindo do céu...

E ela adormeceu. Agora ela sonha com os brilhos de uma constelação. Ela tem seu brilho forte, depois de carregar em sua bolsa as histórias do seu lugar. Distante. Outro inimigo morto, retirado de seu coração com a força de algo maior. Com um sorriso solto, ela luta agora contra sua própria apatia. Ela sabe que dias ruins chegam com a força de um furacão e duram o momento certo. Ela sabe que não adianta ir contra o vento, é melhor deixar levar. Para longe. Construir um novo começo, com a tinta velha daquela aquarela infantil. Fazer uma canção, que a lembre dos momentos esquecidos de verão frio. Brilhante. Ela sabe que dias ruins são como grandes doces, que adoçam a vida e nos deixam mais leves. Ela sonha com problemas que nunca teve, para que os outros saibam da sua existência. Ela sonha com o amanhã, com aquele amanhã que nunca vem. Ela sonha com um amanhã que a leve para um lugar. Um lugar que ela sonha. Ela sonha agora e não acorda mais... Ela não acorda mais.

outubro 23, 2011

Um outono de estação...

Uma cor cinza decreta o início, o meio e o fim do período. Ventos sem mudanças, frio que nada faz mais, dias que apenas passam e não levam nada do tudo. Horas perdidas em um caminho qualquer, rodadas de bebida que cessam sem sabor, sem sentido, sem nada. É uma estação complexa do não acontecer. Seja do seu lado, seja do outro lado da sua vida, seja em outro mar. A estação pode ser aquela pessoa ao seu lado, pode ser uma oportunidade de vida e podem ser os seus passos. A termologia nada muda e as figuras de linguagem também não. Elas esperam o desfecho do capítulo decisivo, longe do final. Elas aguardam o olhar quente, aquele grito de alegria e também o selo repetido. Se a vida precisa de um primeiro passo, este é o outono paciente. Se o amor precisa do primeiro beijo, é o outono trazendo o verão. Se a saudade bate por essência, é o outono seguindo seu ritmo e virando inverno. Porém o outono precisa existir e você precisa desta trilha, seja ela o que for...

outubro 17, 2011

Ele quer a perfeição, mas ninguém sabe...

Poderia conter ditados populares, uma caixa de bombons de surpresa ou uma rosa com pétalas infinitas. Poderia ser uma brincadeira interminável, um vale de imaginação fértil ou um sonho que se acorda com um gosto inicial. Poderia ser o som de uma voz que conforta, as folhas com significados fáceis ou a impressão correta que faria a vida. Porém a realidade pintou de outras cores a situação. Melhor assim. O fim é um começo irredutível. A lágrima caída floresce o coração de esperança. O silêncio grita as mudanças necessárias. A insônia adormece as dores do corpo. A angústia faz enxergar as novas opções do caminho. Apenas o amor, aquele bendito amor, que sempre é amor. Ele não muda, não quer novos ares ou novas ditas esperanças. O amor quer amor. Ele quer o que todo o resto não busca. Ele quer o que todos os outros temem. Ele quer se perder facilmente, sorrir quando só se tem o branco, gritar quando não se tem uma nota. Ele quer o amor quente, aquele de não se conter. O amor quer o amor puro. O amor é a felicidade plena e eterna. Aquela que nunca acabará e sempre renovará. O pior é que ele está correto. O problema é o que você chama de amor, pois o amor é muito mais complexo do que todas as palavras tentam explicar.

outubro 10, 2011

Dê um tempo em tempos…

Marcas, borrões, extrínseco e escuro. Falsos plantões, venenos de ironia, semblantes alheios e ignorantes lampejos. Arrependimentos, mãos juntas, olhares fundos e doce cinismo. Novos padrões, despedidas, tintas secas e sujeira de rodapé. Lendas, mitologias, sobrenomes e irritantes importâncias. Falta a ação, falta a alegria, falta a pureza e também o respeito. Ninguém mais olha para o lado, ninguém se preocupa com o interior, ninguém vence sozinho e ninguém beija a solidão. De agendas remendadas, compromissos infundados, nenhuma decisão e essenciais esquecidos. Enchi a mochila do mais puro nada, daquele que sempre me faltou no cotidiano. Calcei minhas bolhas inflamadas e fiz seus furos libertadores. Sorri da falsidade alheia, não me importei com chulas obrigatoriedades e saí para poetizar. Nunca ganhei nada até aqui, mas estou dando meu passo para o mundo que vislumbro melhor. Se errar, entenda, pode parecer muito estranho, mas meu destino é o pó inicial, exatamente igual.

outubro 06, 2011

Um nome solto para alguém presente...

Em uma rua pálida, uma senhora fez gesto de bengala para os céus e suplicou. Suas palavras caíram na terra marginal, ecoando por entre folhas e limbo uma doce esfera de dúvida e angústia latente. Seus olhos marejavam um tom púrpuro que nunca encontrei na aquarela do artista. Códigos e folhas brecaram suas marchas e seus significados, contemplando o tamanho do desenrolar desenfreado. A senhora olhava fixa para um ponto esquecido, buscava com mãos trêmulas seu eterno sono. A senhora tentava ensaiar passos, mas só conseguia encontrar o gesso da vida. A senhora queria arriar e arrear sua modesta túnica, queria dedilhar pelo infinito as rimas que nunca haviam sido tentadas. Ela berrou pela última vez e sem resposta, voltou-se para seu andar da vida, seu ritmo cadente e certo. Não lamentou, nem demonstrou tristeza. Não suspirou e muito menos emanou um desapontamento. Essa senhora nunca me pareceu ter um nome, mas por nunca ouvi-la e sempre senti-la próxima, decidi chamá-la de coração.

outubro 03, 2011

A tradução instável...

Não seria capaz de admitir se visse em outras páginas. Não conseguiria entender tamanha cor, se fosse de outra aquarela de vidro. Aconteceu em meus olhos, em meus braços e, por conta do meu sorriso, perpetuou-se nos segundos terminados. O cenário tampouco importa. Uma esquina com árvore antiga, um pássaro noturno cantando ofegante, uma ponte ao rio devastado de peixes, um soneto no meio de um canto medieval. Talvez existisse uma ópera regida por ela. Nervosa, aflita e com uns braços enrijecidos pela multidão. Talvez existisse um bloco de anotações raivosas. Talvez existisse, em meu coração e no seu pulso, uma leve saudade de vozes infantis. Em uma dessas curvas de sons, os momentos foram subsidiados de forma cadenciada. Um violão machucado encostado, um desenho não terminado, uma saia esquecida, um bracelete sem cor. De certa maneira eles acordaram juntos e fez daquilo uma introdução. Fizeram a beleza de um acordar solene, com os olhos cerrados mais lindos que meu coração já compôs.