dezembro 27, 2010

Algo sobre a má-sorte do grão...

E o calor sacoleja um chocalho de boas novas. Sacoleja algo imóvel que proclama ao infinito a diversidade que alcançamos... Naquele tear de sonhos, plantamos nossas esperanças. Plantamos nossa realidade totalmente desenhada. Aquela realidade que sonhamos e que nunca queríamos por perto... Ela completou o seu afazer e se personificou em um grão de areia, um grão tão grandioso e pesado que fez marcas em mãos virgens, virgens do tempo e de vida... Bebericou aquela gota de alívio, aquela única em meio ao deserto. Este grão valorizou milhões, comprariam ilhas e arquipélagos... Comprariam a liberdade de nunca mais ter que enxergar ou ouvir. Mas ele rompeu no joelho articulado, no passatempo corrompido. O sino avisou a torre, que não se curvou ao receber tão importante recado... E dessa epopéia adestrada da má-sorte, quem contabilizou o ganho foi um pequeno pedaço de papel que contou a história dias depois, para o vento e que todos sabem do fim...

dezembro 26, 2010

Acontecimentos aquém realidade...

Quente! Como sempre, nesta ou em outra época do ano... Quente e seco! Sim, seco! Como um abanador úmido. Ela apareceu e não reconheceu meu carro, mas tinha um sorriso no rosto. Um cheiro de fruta, uma piadinha além da normalidade... Regamos a temperatura, regamos a junção de mundos diferentes e até dos problemas fizemos a prosa necessária. Ela não reconheceu meu carro, mas era tarde e ela foi a primeira coisa que vi... Pulamos os conceitos cotidianos, escachamos aquela máxima de velocidade... Vivemos e ponto. Quente! Muito quente! Carregava colônias nos bolsos, levava lembranças nas entrelinhas... Fiz o caminho traçado e encontrei o objetivo em forma de prédio. As olheiras denunciavam algo que o gosto do álcool não transpareceu. O bip trouxe a saudade e me aconcheguei no refrigerador que me soltava um ar frio e alegre. Fechei os olhos e pensei nas frases prontas que precisaria para contar, desenhando as personagens com as formas necessárias, abafar uma risada maior, soltar aquele som de forma respeitosa... E mais importante, inventar o que há tempos sonho em dialogar. Foi isso...

dezembro 15, 2010

Pedaços da totalidade imersa...

Eu sou um sonhador, eu sou aquele que fica por último por não ter acordado para ver o final... Que sonhou demais com aquele oceano de verão. Sou aquele que oferece a carona mais complexa e abstrata, que cobra por ela como se não tivesse um fim. Eu sou o último a sorrir, pois na poesia que transcrevo não carrego rimas prontas e ditadas por algum sopro de paixão. Sou apaixonado pelo impossível, sou eterno companheiro da solidão. Sou aquele que estende a mão, mas ganha um abraço. Abraço que poderia consolar ou dar amor, mas traz só o combustível da minha inspiração. Sou um eterno sorriso inexplicável, sou aquele que sonha com aquela estrada percorrida e que não lembra onde ficaram os contextos idealizados. Sou aquele que traz as flores sem perfume e aquele que, como sempre, busca o amor mais idealizado possível. Por ter este intento, rimei o meu final com o platonismo e carreguei os meus pertences para o início novamente...

dezembro 01, 2010

Perturbação por inúmeras tentativas...

A insônia guia um tiro certo, guia um mar em respaldo a clareza da mente. Guia, em fase sustenida, a mente por entre vielas que já foram visitadas... A insônia completa o jogo, reacende o desejo e mascara, com todas as forças, a vontade crucial de se voltar para casa. Depois de um dia, de uma semana ou até um momento, ela se torna personificada naquele rebento que é seu fruto de alimento. Ela se torna o momento oportuno, a vaga pretendida, a recompensa da promessa... Em canos com formas, em espirais difusas, no doce negro acre e no branco pálido de um opaco futuro... Ela guia em linhas tortas, o que deveria ser concreto e sem graça. Ela mostra uma ironia de funeral, como se fosse uma pétala perfumada no verão conturbado. A única coisa que ela não faz é falar... Ela não te informa seu progresso, ela não consegue pronunciar frases interrompidas... Não conseguimos definir a sua voz, se é doce ou pesada, ela simplesmente vem, dita as coisas em sua mente e fica ali, pesada o suficiente para ser notada e jamais esquecida...

novembro 06, 2010

Pelo menos teremos nossas histórias...

Ao ouvir a frase acima, entendi que todas as lembranças se encaixavam em uma gigantesca espiral... Nós crescemos em ruas conhecidas, em marchas solitárias e altas... Crescemos com cervejas baratas e trocos fantásticos... Construímos nossa identidade em letras e ritmos parecidos e tão distantes em alguns casos que formaram um grande círculo. Crescemos nas risadas de aprendizado e nas culturas aderentes. Crescemos com números e combinações prontas... Crescemos e fortalecemos as palavras "para sempre"... Prometemos nessa jornada tantas coisas que nem lembramos mais... Planejamos tanto que vimos os ventos levarem tudo para o nunca... Mas algo que nem imaginamos conquistar, se tornou parte da nossa essência. Essa essência tão única se faz presente nas lágrimas que escrevem essas linhas, essa essência traz as lembranças de dias tão comuns que se tornaram nosso conto épico. Nossa identidade maior e que carregamos sem querer, nos sorrisos e abraços estendidos. Se hoje o círculo aumenta e distancia as vidas pelas escritas de cada um, temos a certeza que carregamos na bagagem vital tudo que pode ajudar, tudo que acalma e que traz a certeza que estaremos no eterno laço do infinito.

novembro 02, 2010

As confusões de vozes que não se encaixam...

Um vento me puxa para o lado escuro e que precisa de angústia para descrição. Outro vem quente, ameno e reconfortante. Soprando poesia rimada, em um ambiente claro e totalmente único. Um suspira o cansaço da jornada, carregado em lembranças e apologias perversas de anteontem na vida passada... Um vem como brisa do mar, aquela que ao fechar os olhos as idéias se refrescam e tudo ganha a leveza correta, o certo no momento. Outro vem com aflição e causa um desconforto que necessita de ajuda, necessita de atenção e necessita de exposição para aliviar o coração pesado. Poetizo o lugar calmo, as vozes de alegria e o ar completamente suspenso na leveza de um paraíso. Descrevo com orgulho a solidão, a escuridão que se faz tão presente em dias e meses... Sinto os cacos jogados na trilha, rostos alegres manchados de passado, de algo tão antigo que não se faz mais presente. De um enxergo o sol e toda a paz que buscamos em vida. De um enxergo os vales percorridos e melodias introspectivas que dizem tanto sobre mim... O som que saí pelo quarto, dita os caminhos e aumentam as vozes de onde prosseguir este caminho sem conexão de algo. Percorrendo estas transições não consigo escolher, não consigo catalogar todas as idéias e desenhar este quadro de traços, este quadro de retalhos... Perdido em expectativas, travado nas equações... A brisa reconforta em paz os momentos passados e tudo o que foi vivido... Espalho ao meu redor todos os momentos de risos que confortaram meu coração outrora. Não carrego mais a angústia em mim, pois sei o que construí em romantismo concreto. Vejo certos pontos brilhantes nesta escuridão... Personifiquei a felicidade e hoje completo minha totalidade. Só com a abstração me sinto perto de ti. Nossas mãos uniram-se em infinito com o Sol dourando nossa união. E sem um fim, me despeço sabendo que fracassei hoje...

outubro 17, 2010

Talvez eu queira te dizer...

Que nem penso mais em formas geométricas para termos uma ligação esotérica. Que tudo que se guiou para o longe, foi forte o suficiente para não ter vento contra. Que as barreiras transpuseram nossa maré em pequenos afluentes de uma vida maior... E que agora eu olho sua letra com um pesar grande o suficiente, para virar um novo capítulo. Em pensar que hoje estaríamos perdidos em nossas energias, em nossas triangulações. Em pensar que em pouco tempo escreveríamos aquele parágrafo tão surreal, quanto surpreendente. Em pensar que tudo seria diferente, com eu e você, com nossos olhos se cruzando incrédulos... Seria diferente, pois seria algo unido e com uma aquarela de desejo. Seria diferente, pois teria uma risada abafada que mudaria qualquer infinito, transformando-o simplesmente em algo palpável e memorável para se guardar próximo a carteira. Hoje eu seria aquele que eu jamais me espelharia e diria coisas que iria me arrepender em minutos. Hoje eu usaria aquelas roupas despojada para me sentir sociavelmente ativo e corajoso o suficiente para te deixar para trás. Hoje eu escreveria emocionado algo tão único, tão pessoal que não seria para ninguém mais... Mas o ninguém é alguém tão longe que não existe. Alguém que talvez ainda nem nasceu e nem desenha pegadas nas trilhas perdidas da estrada. Hoje eu escrevo isso, pensando em minhas mãos e em meu suspiro que aprisiona o meu amor em uma cápsula chamada coração...

outubro 09, 2010

Alguns pontos não precisam ir além...

Ela veio me acordar no meio da madrugada com um sussurro nos ouvidos. "Acorda e vem cá!" dizia em som baixo que custei a entender. Seu sorriso estava postado em seu rosto. Seu sorriso era tão leve, tão limpo e tão lindo... Ele foi responsável algumas vezes em meus sonhos, me levando a lugares únicos somente pela sua beleza... "Vem poxa... Dorminhoco!" brincou ela brava em certo momento... Acordei e a segui pelo corredor, tentando acompanhar seus passos quase surdos, sem barulho, como toda suavidade possível. Ela me levou até a varanda, com a noite fria e o vento forte. Ela parecia não se importar com a temperatura e me chamou para o seu lado na cadeira que sobrava... Obedeci conforme ia acordando e a tontura do sono dissipava-se graças ao vento forte de fora... Perguntei o que tinha acontecido e o que ela queria me mostrar afinal. Seu sorriso sumiu durante um curto espaço de tempo, porém voltou com grande intensidade... Ela levou seu peito em meus ouvidos e falou "Escute este som, é o som do meu amor pulsando no meu peito, por você..."

outubro 06, 2010

Turbilhão de dúvidas sem parecer...

E o que será que ela quis dizer com seu sorriso e seus olhos vagos? O que será que ela quis dizer com o entrelaço de dedos e o sorriso para baixo? O que será que quis dizer aquela dança perdida no meio da noite? O que será que quis dizer aquele sorriso de madrugada bem no fundo dos olhos? O que será que tinha naquele copo que causou alegria em ambos? E aquele convite perdido para ver o luar? E aquela rebatida com olhar fixo e certo? E por que será que eu fiquei aqui contemplando um vazio ao ver que nada aconteceu e tudo pareceu um sonho? Novamente, só com lembranças vagas de momentos de vento em uma vida desgarrada...

outubro 03, 2010

Distantes como poesia esquecida...

A inspiração vem na solidão, ela vem me beijar sempre quando contemplo, incrédulo, a passagem estreita da vida... Vem com lira, vem com desejo e vem com obrigação. Vem como melodia, convida a dançar e a seguir o seu ritmo... Mostra cores no escuro, som no vácuo, a sensação de infinito em plena caixa fechada. Com ela tenho a descrição de completo em qualquer lugar que minha visão alcançar... Com ela tenho a explicação dos meus enigmas e toda sanidade explicada em prosa livre... Sem lágrimas e deixando os dedos ditarem o destino mais complexo do universo. Ouço um grito de uma canção que nunca se repete, ouço o sussurro de uma nova vida chegando, ouço o nascer de uma relação que jamais sairá do papel... Me pego dançando pelas vielas que sempre sonhei, me pego cantando desafinado o amor que nunca entendi, me pego escrevendo linhas que quando acordar deste sonho, vou duvidar que fiz. Crio um refrão que ficará suspenso durante a eternidade e perdido nas curvas da minha vida... Capitalizo as sensações e vejo que estou feliz. Sou o poeta que já fui em alguma etapa perdida... Não sou mais, mas ainda assim, continuo sorrindo, pois falam que sou melhor assim...

agosto 19, 2010

Se pedissem para escrever meu sonho...

Não sei se conseguiria, acho que faltaria algo que sustentasse tamanha descrição. Talvez não desse foco na cor, na mistura plausível de uma aquarela infinita... Talvez faltassem ouvidos para apurar os sons, sons de tudo, da planta respirando ao eco em um vale perdido... Talvez as máscaras que cobrem as personagens sejam mal interpretadas, pois elas nem sempre são os principais nos devaneios... E por fim, talvez eu não sonhe, talvez eu viva em uma realidade alternativa e que todas as vezes que me pego falando sozinho é, na realidade, a minha participação ativa nesta outra. Talvez este texto já tenha sido escrito e toda minha obra, minha loucura repentina transformada em frases, seja só um diário das lembranças deste meu outro eu, em um outro lugar... E, longe de novas definições, eu não sei dizer mais nada, além de notas, de rima e de abstração.

agosto 07, 2010

Seja educado, diga algo bem vago...

E não adianta o que eu faça, é meio impossível. Olhá-la é como um crime de tentação, uma sentença perpétua do organismo... É invisível a perceptividade, porém é completamente visível o não desejo dela... A vejo perfeita, sorridente por minha lira, dançando conforme minhas letras e arranjos... Entrando naquele leve estado de frenesi por causa de meu ritmo... A vejo assim e quase posso tocá-la... O sorriso é correspondido, os olhares se cruzam, o cabelo esvoaçante dança em um ritmo que quase posso acompanhá-lo... É o meu ritmo! Meu ditado embaçado e incompreendido a fazendo dançar. Empolgo-me ao mesmo tempo em que seus olhos cruzam outros e o mundo para... O sorriso é de outro brilho, o ritmo tem quebradas estranhas e desacompanhadas com o anterior... Os cabelos esvoaçam e gritam para a volta do anterior, mas o coração dela já foi engatilhado para o outro... O coração ditou mais uma das loucuras existentes... E em segundos, eu a perdi para um par de sorrisos ao seu lado. Sem lira, sem ritmo, sem poesia e sem rima... Simplesmente o pouco espaço existente venceu todo o meu trabalho...

agosto 02, 2010

Eu não finjo que conheço...

Depois de inventar caminhos desfeitos, tentei sacramentar a poesia. Inscrevi dizeres populares e rimas prontas, perfilei grupos de sonetos e tenras epopéias. Figurei de colorido os finais sombrios, assoviei cantorias esquecidas e nunca inventadas... Transcrevi tudo que pude enxergar com meus olhos desacostumados, experimentei os limites impostos pelo meu tato, agrupei sons que pude dedilhar pela audição. Utilizei todos meus sentidos para conseguir chegar ao lugar comum do não lugar... Ao lugar que talvez nunca deveria ter saído e, quando consegui acordar, fui descobrir que eu era mais um na multidão de perdidos deste cenário... Mas poetizei como poucos conseguiram todos estes poderes revelados e por esses notórios arranjos, me chamaram de amigo.

julho 14, 2010

Sobre o domínio dos lírios...

É da razão da chuva que se transforma o sabor do orvalho... Das pequenas pétalas que pintamos os melhores cartões postais... Das inúmeras feridas que se cria um coração. Ao caminhar por entre os caminhos da comparação e transformação, descobri meu significado criativo, meu motivo e minha busca. Dos meus olhos não acostumados, consegui enxergar uma pureza abstrata e nela consegui introduzir a paixão desvairada. Com palavras soltas, criei as poesias que me definem e me explicam... De campos abertos, encontrei um lugar pequeno para meus sentimentos maiores e, sem clausura, consegui ditá-los para o infinito silêncio. Se hoje carrego certa experiência, minha bagagem era leve no começo e pude coletar o volume máximo de imagens e de situações... E disto todo, olho para um horizonte bilateral e enxergo um oceano inteiro de inspiração para a vida... Deixando estas frases, soltas pelo caminho daquele que ainda procura respostas...

julho 06, 2010

Desta carregada razão...

De uma janela violeta foi ditado o cântico do amor platônico... De uma cela solitária no deserto foram escritas as redondilhas românticas... De uma taberna carregada saíram bibliotecas inteiras do amor idealizado... Das lágrimas angustiantes saíram as canções dos trovadores... Do fundo de uma garrafa de vinho tentou-se encontrar a definição de paixão... Das páginas despedaçadas foram escritas suposições do amor... E daquele papel amassado, no bolso moribundo, foi que foram escritas todas as poesias que minha lira te prometeu, sem nenhuma definição aparente, sem nenhuma resposta em vão...

junho 24, 2010

E o sentimento bate forte carente de aflito...

A insônia e a angústia por respostas sempre me fizeram refém do álcool. Único companheiro ouvinte de lamentações e consciente das dores dos que apelam para seu poder. Todos aqueles pobres e loucos que não conseguem te compreender, todos aqueles que não sabem nem falar e muito menos te ouvir. Sua voz que saboreia nossos ouvidos com consciência e sabedoria. Seu doce sabor que fazem os olhos brilhar... Seu poder! Quantas vezes me ditou linhas e linhas de uma lira interna que só você consegue ouvir? Essa maldita lira que só você consegue despertar! Você compreende o amor, os sonhos e as desilusões dos teus seguidores... Como escreveria, nas linhas do eterno, nosso mestre "Conhaque! Não te ama quem não te entende!" e eu cansei do tolo sabor enojado de mel da vida que tinha acostumado...

junho 20, 2010

Entre trovadores e contemporâneos…

De uma noite regada ao álcool surgiu a idéia perfeita de poesia. Recitar antigas líricas, corrigir sonetos inacabados, fazer girar as redondilhas menores e rimas desfeitas pelo vento... Foi essa a idéia, contar o amor pela visão noturna perdida, pela visão do caótico e do inesperado. Uma poesia que flui ao fazer as práticas diárias, uma lira que canta inteira nos raios do mesmo... Esta é a poesia! Uma poesia que não é capaz de ser escrita, de ser descrita ou de ser manuseada... Nunca foi! Trovadores tentaram, ao sabor do desconhecido, recitar versos escolhidos para uma amada que nunca existiu, se quer resistiu ao olhar... Românticos desvairados eternizaram figuras que só apareceram em seus sonhos... Os modernos jogaram em algum lugar-comum para dar vida aos personagens que não damos atenção... Os contemporâneos estão perdidos entre o folclórico e o imaginário da magia... Todos tentaram descrever o sentimento mais puro e simples. O sentimento que pode ser capaz de mover obstáculos só pela sua existência. O sentimento simples que me faz guiar em perigo pelas estradas sem-fim... A resposta é a lírica do vento, a perfeição do silencio obscuro, a falta de imagem em uma cena vazia, a presença secreta que jamais é anunciada... Eles tentaram descrever o impossível, porque, em suas vidas, era impossível amar.

junho 19, 2010

Da poesia escachada na porta...

O horizonte pinta de aquarela um novo dia, os pássaros anunciam este nascimento com seu canto encorajador. No cômodo perdido o dia anterior ainda não terminou e não é possível contar quantos dias estão perdidos. As melodias, que já foram doces um dia, ecoam pelo lugar, mas sua melancolia difere bem de quando foi composta, pelos primeiros raios de sol de um dia qualquer. É impossível entender a razão desta inércia e é mais complicado definir todo este cenário. O chão espalha restos de uma vida, de sonhos quebrados, de testemunhas felizes e de promessas registradas... As paredes carregam apenas marcas do que antes era um mural da perfeição. As chaves estão jogadas em um canto indefinido e perdidas. Existem rabiscos complicados em cada passo dado em direção a porta. Esta, aberta e batida, indo e vindo pelo sabor e rumo do vento. A complexidade desta esfera é entendida pela poesia cravada na porta, com a melhor letra arranjada, que diz em poucos versos:
"Cansei de esperar neste túmulo,
Nesta esfera parada e nula
E mirei o fim deste túnel.
Deixo as chaves do meu coração,
Para que não consiga mais ser enganado,
Para que jamais possa sentir o sofrimento
Esta eterna guerra entra razão e paixão.
E eu que relutava ao ver tudo acabado
Restou-me só poetizar o fim deste sentimento."

maio 30, 2010

O sereno da manhã quente...

Deste rabisco sem início surge uma nova epopéia. Das letras tensas e tremidas é composta uma nova canção. Das lembranças e dos abraços em ruas perdidas aparecem os personagens conhecidos... E a poesia é cantarolada no silêncio de um coração observador. Julgamentos, felicidade, promessas e discussões. Olhares, beijos, gritos e angustiantes lágrimas. Brincadeiras, vergonha, sorrisos e separação. A espera, a chegada, o Oi e o Adeus... Em grupos que se equivalem tecem, juntos e separados, a teia de mistério e significados que estaria por vir. A teia que poderia conter as suas características únicas naquele bando de desconhecido. Se fossem todos bons, seria o fim melancólico. Se fossem ruins, seria o fim alegre. Mas estão balanceados e tentam, frase após frase, cantar a música infinita de um amor desconhecido. Tentam depois de linhas escritas e completamente perdidas nas estrofes, significar o que o dicionário amigo definiu como amor.

maio 18, 2010

Começou com a chuva que esfriou...

As alças não se estendem mais como deveriam. Com um véu seco, impermeável que dança ao vento noturno. Noturnos bailam em um redemoinho de cantorias leves e complexas... Poderia criar imagens de encontros ditados, mas o Previsível nunca repete seus atos. Traz consigo a brandura do antes, as alegorias do nunca e a resposta do sempre... Cria um caminho desenhando outro, conta finais de histórias que não foram escritas, proclama números que são incontáveis... Sim! Ele transforma um verde na pose infantil da fotografia, no lugar que se perde nas lembranças vividas. Peca o espírito, chora a tríade importante, testa seus órgãos em um contato completamente compreensível... Pede a uma criança que o descreva, pois quer saber como se pinta para o mundo. Na inocência do amanhã, a criança dobra o papel e berra saltitante e incrédula 'A folha em branco é muito para sua poesia!'

abril 28, 2010

Meus desejos de ser...

Sonhei certa vez em ser um daqueles poetas que não passam despercebidos, que todos olham e admiram a obra. Que todos admirem, mas sem sucesso ou brilho. Seguiria a vida cantando uma prosa indecifrável, mas que marcasse os passos dados em uma névoa vital... Sonhei tanto que me perdi dos endereços do meu plano inicial. Continuei sem denotação, sem prosa e sem lírio... Continuei como uma vírgula colocada em um lugar errado que ninguém percebe e continua... Continua este ditado mal falado de palavras soltas ao vento, sem significados e sem distinção. Continuo tendo o abstrato como acolhedor da falta de sintonia entre eu e minha fraca tendência... E sonhei certa vez que gostaria de ter uma escrivaninha e um caderno limpo para escrever meus contos de amor... Sonhei tanto que hoje escrevo as lamentações, dia após dia, em retalhos de um coração que já se cansou de alimentar essa ilusão...

abril 20, 2010

As mãos entrelaçadas em um ponto além...

O perfume percorre o ambiente, impregna as mãos e guias meus sonhos. Seu olhar me conforta em pensamento, me acalma em meu deleite e aprofunda quando está perto. Tuas mãos trazem a tortura do aumento cardíaco, porém, sua leveza faz do inferno um imenso mar calmo. Tento colecionar os momentos rápidos e o sorriso sereno para poder completar o meu sono no recanto do amor... Falho nas inúmeras tentativas, afobo nas chances, anseio o som da vitória em seus lábios. Mas nada me traz de volta, nada me deixa retornar e conquistar. Você caminhava por entre o desconhecido e hipnotizado tentei seguir-te nesta névoa intolerável e daninha para meu sentimento... Ao acordar do transe, um sorriso nos lábios pelo sonho bom e a angústia funda no olhar por ver que tudo não foi real e como resultado minha vida no clichê infame do: Me perdi tentando te encontrar...

março 22, 2010

Sobre melodias e pedras...

Me ensina a ser como você quer, me ensina a me perder de uma razão para fazer tais coisas desfeitas. Me ensina a brincar de sorrir ao te ver. Me ensina a te tocar de um jeito único e me ensine a entender que seu olhar é o infinito do meu viver! Me mostre o caminho de ida, me faça esquecer a volta e me faça, cada dia mais, ser menos dependente de você. Sim, eu já pensei em tudo acima e resolvi desligar os fios sobre o meu colchão. Já desenhei meus novos mapas sem teu nome e as suas iniciais se perderam nas teclas do telefone... Eu esculpi a melhor obra do parque, cortei a melhor cena e fotografei a poesia viva... Todas elas, que antes me pertenciam, anotam outros nomes em suas placas frias... Todas elas se cansaram de cá e buscaram a alegria fora deste mundo melancólico. Em um lá maior que faz mais do que acordes e boa sinfonia... O lá faz as pedras menos polidas e mais marcadas de vida que você possa imaginar...

março 13, 2010

A visão abstrata do hoje...

O vento frio vem do tímpano da dúvida, de um pingo neutro da falta de coragem, que latiu em disparada há alguns dias e um pouco das letras apagadas da inspiração, que faltou onde mais se precisou, para traçar um caminho além. Os pingos que caem fazem a melodia triste e cadenciada do nada. Um dedilhar de sons agrupados, mas sem um ritmo definido. Sinais que passaram e que tentei, em vão falho, desvendar. Um olhar e um braço jogado para confortar, um beijo doce e um brincar que não sei o que pensar. É aquele sorriso que congela com um adeus inevitável. Um até breve que de breve, a estação muda e o esperar se cansa. Hoje contemplo traços invisíveis na parede onde antes escrevia seu nome em códigos... Para ser mais fácil de te encontrar e saber exatamente como te entender. Hoje, passeio nos brancos espaços de um terremoto sem fim, de uma dificuldade e uma falta absurdamente sentida, mas que, nem eu mesmo, saberia se é isto que eu gostaria de ter agora... Contemplo o hoje, tentando entender o agora, imaginando que em um futuro encontre, nos seus traços, o enredo para a próxima história a ser desvendada na fogueira...

fevereiro 28, 2010

Abstração e Não-Lucidez...

A viagem ganha um mundo paralelo. Companhia diária importante, o álcool começa a ser mostrar fraco para o desenvolvimento do sentimento e novas, e até então proibidas, substâncias são utilizadas. Elas afloram a mente e criam um paralelo que pode ser logo sentido nas primeiras linhas das leves brincadeiras. São jogadas ao vento palavras desconexas, que vão ganhando significado perante o caos supremo. A abstração vai aos poucos se tornando a maior parte da nossa mente e, cada vez mais, pede combustível para permanecer viva. Dia após dias ela ganha terreno mental e não conseguimos mais distinguir os paralelos que criamos. Alguns conseguem o controle quase total e só desenvolvem a parte abstrata do amor, outros se perdem no novo sabor e passam as horas de vida brincando com o concreto. Como o amor é complexo demais para descrevermos, a nossa abstração quebra a dificuldade de síntese com outros elementos. Abstraímos da respiração ao pulsar, do sorriso mais belo ao vento gélido da solidão. Entramos totalmente em um labirinto emocional que muda constantemente seus caminhos. Em leves clarões vemos seus resultados, porém, no instante seguinte, tudo é alterado e o jogo de palavras volta com novos significados. Vivemos neste parque de diversões das idéias, com suas charadas e suas adivinhações. Experimentamos o extremo de significados possíveis e impossíveis. Figuras transformando-se em sons, paisagens declarando todo seu amor em hinos irreconhecíveis, personagens perdendo a vida por olhares personificados. A pureza sendo envenenada na mudança de linha e o perdão mais puro aprisionando para sempre o eterno apaixonado. Todo este caos em linhas é o trabalho que resulta de uma mente perturbada, vivendo em outra realidade, com outros rumos e sem dificuldades. Assusta em seu início, mas vai ficando menos acre com o passar do tempo. E o que antes causava perturbação, ganha um sorriso leve ao final. Após um tempo indeterminado, deciframos todas as curvas existentes, dissipamos toda névoa causada pelo amor e sua descrição é vista em todos os rostos e textos dos viajantes. Porém, como uma brincadeira sem fim de uma terra incompleta, uma nova ponta nos é colocada, não sabemos se por culpa da abstração extrema ou da complexidade do amor, acabamos por viver cercados da Personificação dos Sentimentos...

fevereiro 12, 2010

Habitantes do Platonismo...

Nos é mostrado um mundo de sonhos perfeitos e caminhos perfumados de paixão. Jardins repletos e fartos, com a temperatura ideal para se apaixonar por todas as circunstâncias. Caminhando um pouco além, descobrimos que é só a fantasia que nos é mostrada. Alimentamos uma fome gritante, mas que jamais se mostra fim. Vivemos nos sonhos repletos e quando sonhamos com o realizar, nosso peito inflama e caímos novamente no início deste mundo. Redundâncias perfeitamente acentuadas! Lua e estrelas, nossas companheiras de túnel, tornam-se nossas melhores amigas, pois passamos madrugadas inteiras gritando a angústia do quase, a infelicidade da falta de perfeição e cantamos o nosso amor não correspondido. O álcool vira nosso combustível de vida, vira o sol de nosso mundo, pois não conseguimos viver sóbrio com a perfeição sem fim e nada real. Vivemos para nos embriagar e, desta embriaguez, soltar nosso lado de fantasia para tentar aguentar toda essa redundância. Seu doce e acre destilado infla nossas veias com a inspiração embriagada e fazemos poesias para a mais perfeita bela do mundo. Com todas essas poesias coletadas pela pureza do sentimento, durante dias e dias, criamos um jardim repleto da arte romântica e alcoolizada. Em nossas andanças madrugada adentro, escrevemos um rio de poesias, provas e juras eternas de amor, porém elas se calam ao amanhecer e ao fim das nossas forças. Essa infinita espera do nunca deprime e acentua a angústia. Em flashes com o mundo de nossa amada é quase impossível segurar a razão, uma loucura latente nos invade e perturba ao ver todos os nossos sonhos ruir como areia ao encontro do mar da realidade. Conhecemos os diferentes sabores da derrota e sabemos identificar todas as suas personificações. Quando estamos conectados ao mundo real, queimamos em seu inferno e nossas poesias, tão trabalhadas e verdadeiras, são as laminas que nos cortam e nos jogos novamente à fantasia e sonhos. Esta constante não realização de sonhos faz nascer, depois de muito sofrer, dúvidas da nossa capacidade. Dúvidas que tatuam nossa pele para tentar entender como o amor, vivido em nossa maneira tão pura, é capaz de ser tão injusto e diferente fora do mundo das idéias. Há os que ficam pelo caminho dos dias infinitos da solidão e do álcool e há também os que migram para outro estágio, o estágio forte da Abstração e Não-Lucidez...

fevereiro 07, 2010

O Túnel da Solidão...

Frio e implacável, úmido e convidativo, descritivo e conotativo. Colorido recheado de escuridão, em suas paredes carrega as marcas de seus passageiros... Recheadas de gritos, angústia, poesias, frases soltas e amor. O amor existe em seu mais perfeito estado de espírito. Cada caminho trilhado contém seu doce perfume. É na solidão que o amor consegue seu auge, na solidão que o amor rege seu sentimento e personifica-se em personagens diversos: pinturas, canções, letras, rimas e risos... Todos os elementos da inspiração fluída do amor. A pura inspiração destemida e ilícita do amor. Inspiração que expira o entorpecimento proibido. O entorpecimento das mais impuras naturezas, desde pílulas, cartas, comprimidos e sonetos até gotas, redondilhas, picadas e refrões. Doce impureza que arrasta madrugada adentro para um impossível desfecho. Sabe escolher para cada momento a melodia certa, a certeza da estrofe perfeita e nos faz cantar. Rasga-nos o peito e explode nossa garganta com sua lira, seu tenebroso veneno. Seu ilusório cantar. Perdemos os sentidos e as forças, vamos ao encontro das diversas loucuras em nome do nosso amor, ou quem ele tenha escolhido nestes meses tortuosos. Traçamos o plano perfeito, sonhamos acordados com o perfeito momento. Nunca nos importamos com a negação, pois ninguém pode negar o amor! Não o verdadeiro amor e nunca o maior amor que infla nosso peito. Tentamos descrever em palavras o que arde em nosso interior, mas procuramos este sentido em folhas inexperientes e sem significados, pois só quem é passageiro ou percorreu estas estradas consegue entender o que é viver isto intensamente. Suspeitamos de tudo e de todos que se dizem experientes, pois nosso sofrimento nunca se compara ao de ninguém. Luas e estrelas são testemunhas de nossa crescente angústia, de nossa terrível jornada. Só elas conseguem suportar quando avistamos o fim do túnel, o fim da jornada e realização do nosso amor, a resposta de nossa crescente dor, só elas conseguem nos suportar quando finalmente iremos desfrutar de toda a paralisia das nossas engrenagens. Neste fim é que conseguimos saborear o amor em seu mais profundo gosto, na sua mais profunda pureza... Sonhamos com este momento, com suas cores e cheiros singulares, com suas músicas cadenciadas e luz indescritíveis. E está ali, bem à frente, na saída que sonhamos durante dias incontáveis. Finalmente os últimos passos dentro do túnel que nos mostrou tudo com mágica e sabedoria. Ao primeiro passo, sempre dado em falso fora do túnel, descobrimos que mudamos de mundo e somos os mais novos Habitantes do Platonismo...

fevereiro 06, 2010

Dias a velas acesas passando...

Trapos e cacos de um caminho perdido se juntam no chão empoeirado. Tudo que podia lembrar você abstrai-se como a chuva repentina. Caem gotas silenciosas neste carrossel visionário. O álcool, que era para regar uma alegria, tomou conta do sangue e desenhou em minhas veias um pequeno abismo infinito. Um ponto verde, abaixo da língua adormecida, reluta os fatos jogados na praia de pedras. Rastejo para algo concreto neste oásis e vejo apenas um livro despedaçado. Logo me aprumo e vejo que livro conta uma história conhecia e surreal, divertida e piegas, com alguns personagens domesticados por todos. Seu primeiro capítulo, em letras miúdas que cobrem toda a extensão da página, sugere o início: O Túnel da Solidão...

fevereiro 05, 2010

Alguns dias eu venho concreto...

Minta sobre um destino que não te escolheu, um caminho que te foi fechado para sempre. Minta sobre as opções que fez e as lindas feridas que proporcionou... Minta sobre como deixou o coração alheio e minta também sobre como consegue mentir. Produza todos os seus feitos com a beleza noturna que nunca lhe foi característica. Seduza o orvalho perfeito e encha-se do seu perfume. Dê risadas abafadas, toques singelos e olhares perdidos. Crie a sua fantasia e faça disso uma poesia desconexa, falsa e sem nenhum sentimento. Jogue palavras ao vento e se enquadre em algo único e peculiar. Dance uma lira desconhecida, cante a ópera criada e faça da sua vida um teatro de fantoches vespertino. Porém quando todos se enjoarem e você não conseguir mais fingir o que é, chore! Chore as lágrimas inexistentes, mostre um choro confuso e sem voz. Nunca um choro daqueles enjoativos, recheado de pedidos e compaixão com um sofrimento inculpável. Culpe, fira, destrua e prometa... Simples jogos insolúveis que você proporciona. Engraçado como a inspiração transforma o sofrimento em prosa livre, transforma um aperto em parábolas construtivas... Engraçado é ver que, após tudo isso, você morrerá sozinha no caminho que sempre quis estar.

fevereiro 01, 2010

Com a cor branca de um rocheado...

Trabalhado o olhar correto em um momento inusitado, com todas as imperfeições características e um clima impossível de se notar. A inspiração falta e a construção pede à imaginação que venha fértil. Que venha e traga, junto ou em partes, o doce orvalho da tentação... Do impossível esquadro, das páginas usadas e do rascunho vislumbrante. As histórias se perdem, o olhar não passa de uma fachada esculpida em algo frio e o doce sereno enrola-se noite adentro. Situado como um jargão não utilizado, guardado com a vergonha alheia e a piedade de um sonho que nunca se concretiza, nunca vira algo diferente de um sonho. Redundâncias e brincadeiras jogadas ao vento singular e cortante... Frio como sempre, frio como um olhar que não responde as investidas e congela, para um todo sempre, um coração latente...

janeiro 23, 2010

Lançados dados no orvalho da sorte...

Diga para a ela que eu estou bem, que meus olhos se cansaram de esperar na mesma janela, dias inteiros, o carro azul chegar para poder sorrir. Que me cansei de sonhar com um endereço de uma cidade grande que pudesse estar meu futuro promissor. Diga que eu não ganhei fama ou nada com os versos endereçados e que fui virar poeta depois de muito tentar e que consigo não mais associar a banda de rock que era a predileta por ela... Diga para ela que eu consigo sorrir, que todos os textos que fiz durante as noites, serviram para eu ver o quão distante estamos e impossíveis de juntar. Que todas as noites em claros serviram para eu ver que cansado amo bem menos. Diga que todas as vezes que falei que amava ficaram guardadas em mim, porém endereçei elas para um desconhecido qualquer da rua, para que ele pudesse, encontrá-la naquele lugar e ocupar o posto que sonhei durante anos ser dono. Diga para ela que parei de sonhar, que todas aquelas horas no telefone congelaram meu coração que pulsava para o impossível. Que os momentos foram curtos e rápidos, assim como a morte durante o sono. Diga que minhas caminhadas serviram para conhecer o meu mais profundo sentimento e que, apesar da minha mínima idade, eu jamais seria o maior amor da sua vida. Diga para ela que não aceitei mais pedidos, que sei distinguir impulso de verdade e que minhas poesias sempre foram melhores abstratas. Que apesar da peculiaridade, a verdade e sinceridade sempre prevalecem em um mundo perfeito. Diga que eu percorri caminhos demais e sei que minha maldição é terminar só, afogando sentimentos e ganhando a doce solidão como prêmio final de um crime perfeito. Diga para ela que não sou tão igual quanto ela pensou, ou até possa parecer. Que meu sorriso não se incha ao vê-la e que tudo que passou, nesse meio-tempo gigante, pode ter ficado na história de um livro esquecido, folheado e guardado com estranheza. Diga que eu tive muitas idas e vindas e que as fotos borraram a parede lisa da minha vida. Depois de tudo, se alguma me procurar, diga que sei que fico sozinho, não por escolha ou destreza, porque sei que sempre vai ser assim, mudam-se os amores, pessoas e até as promessas, mas permanece o olhar único que congela, que inflama, que ama e que odeia... Aquele bendito olhar que pula de pessoa para pessoa, que atravessa épocas e não envelhece, que sabe que quanto mais você mude, ele jamais vai mudar pois será sempre notado. O olhar que hoje fujo e corro distante, o olhar que diz tanto sobre mim como se me conhecesse há tempos... E ele me conhece, muito mais do que eu gostaria, pois ele é o olhar do amor.

janeiro 12, 2010

Frustração guiada para a descrição...

Titularizar um poema abstrato que traga a evocação e resumo necessário. Flertar com rimas inexistentes, deixar a modernidade de um piscar de olhos guiarem o ritmo de uma dança fúnebre e carregada de sentimento... Caminhos traçados aos quatro ventos mundiais, inspiração que chega como um telefone amarelado da espera. Mãos atadas com nós invisíveis que frustram todo o amor latente. Cenário talvez impossível de se imaginar ou montar, porém vivo no coração de um poeta desconhecido, perdido e insolente, que utiliza sua lira, seu doce brincar, como forma de expressão e alimento. Sabe que carrega um espírito trovador dentro de si, com facilidades de cantigas e sonetos menores... Frustrado! Como sempre foi e como sempre será... Buscando em cada aurora reconhecer seus pontos comuns, reconhecer a origem de sua dor e seus desejos. Onde foi que iniciou sua jornada, razão da sua tortura, e onde que está o último capítulo... O desfecho de uma odisséia sem personagens ou enredo. Caminhou por entre montes conotativos, bebeu das chuvas que fizeram desgraças, sonhou com estrelas que queimavam seus olhos e tropeçou em jargões tontos e feitos. Procurou em pedras e pergaminhos, procurou nas escrituras e nas flores... Desistiu de encontrar sua missão e então, já alucinado com as possibilidades, decidiu que iria transcrever nos livres caminhos a incerteza do nada... Virou o silêncio do escuro.

janeiro 08, 2010

Morremos na tentativa do nunca...

A escuridão ganha um movimento estranho quando me pego pensando em você... As alternativas se esvaziam de um mundo paralelo e no horizonte brotam todos os sonhos que talvez tenha tido com você. Minhas histórias se confundem em um gotejar de oportunidades nunca assumidas pela razão. Esvaziado pelo parecer absoluto, me ponho a vasculhar se você não passou de mais um sonho etílico, desgarrado e ordinário, que ganhou vida em minha mente devastada. Se fosse para dizer qualquer coisa me perderia nas linhas que já escrevi, sóbrias ou não, completamente entupidas de adjetivos atormentados. As cores mudam de órbita, ganham um peculiar som de tristeza e desenham um sorriso perdido no céu negro... Em números me perco e multiplico tesouros inventados. Desenho mapas frustrados e escondo um dicionário de razões para ter você nesta loucura. Mas agora, a pintura principal de uma exposição visitada me mostra a mais terrível denotação... Você é a pérola perdida em um mar que um cruzeiro levou.
O prazo de validade venceu...

Nossos olhos não se cruzam mais... As palavras, antes doce, transformaram-se em imenso silêncio. Como aconteceu em outros tempos, me sinto um desconhecido lembrando de algo tão bom que é impossível dizer que foi real. Sua voz sumiu da lembrança e não posso mais dizer que era doce e sincera. O tempo passou e, pelas dificuldades alheias, fomos nos separando como duas peças nunca encaixadas... E os dias, que lembrava tanto, viraram "outros dias"... E pela solidão e sua ausência me faz questionar se foram reais... Os olhos em lágrimas, a caneta falha, a fome surpreendente são simples sinais que estou vivo na imperfeição e as marcas de um vidro fazem menção a um dia perdido em uma longa e distante estrada... A estrada que sem saber percorri pensando em você.

janeiro 04, 2010

A folha machucada transcrevia emoção...

Dedos entrelaçados em um futuro de propostas, lágrimas indecifráveis contando os minutos de um tempo que já não era senhor, nem tampouco, inspirados na odisséia de contar... Era ouvida uma canção ao longe, conhecida e com batida abafada, mas com outro refrão que dedilhava a mudança. Idéias marcadas de outros autores coroavam o momento e decoravam a parede do único cômodo com vida... Cores! Muitas cores formando um batalhão de claro e escuro... Misturadas ou aglomerando-se em um mar de hipóteses, certas ou erradas, vitais para seus dedos. Existia a folha no canto limpo da escuridão. Marcada e sofrida, dobrada e sofrida, rabiscada e sofrida... Nela se existia um único momento, era aquele que se perde no contexto para ter um fim... Aquele momento que, de tão carregado, experimenta o abismo primeiro de emoção e não volta ao seu estado normal. A folha tentava, em vão, ajudar e organizar... Mas existiam ali amor e sonhos tão complexos e abstratos que ao mexer eles evaporavam para uma nova mente... Um novo estágio de comoção. Não era nenhuma poesia perdida, muito menos um conto romântico ou um épico triunfal de algum herói desconhecido e manjado. Nas poucas linhas completas e nas palavras carregadas, existia ali simplesmente algo impossível de dizer, mas que todos conhecem e correm da sua existência... Existia ali, na sua inteira simplicidade, a angústia da dúvida.

janeiro 03, 2010

E tudo traduziu com o verde...

Se fosse para lembrar uma imagem, seria do seu sorriso. Se fosse uma razão, seria da água. Se fosse um momento, seria seu "Oi". Se fosse um som, seria da sua risada. Como compromisso, minhas chances se perdem ao dançar ou passam pelos corredores infinitos. Seriam quatro números e uma vírgula de uma história que não foi contada. As palavras fogem de uma descrição melhor e a minha razão se perde em não saber o que seu olhar quer dizer. Me perco no triste fim de um nunca, me perco em um silêncio ruim que não posso gritar para preencher. Todo o balanço não é capaz de me tirar do lugar, e, assim, sem soma ou subtração, continuo contemplando um olhar perfeito que é o seu...