Julieta queria um amor para sonhar e começou com um rascunho de poesia. Nela colocou todos os elementos que lhe tiravam a respiração. Um isolamento, uma angústia acentuada, um resumo de guerra, uma história de raças e até um tempero afrodisíaco para ser completa. Desenvolveu a história sem um personagem fixo, pois seu amor deveria ser volátil ao espírito e amar era muito complexo para se figurar apenas a um ser humano. Este foi o problema. Amou demais, colocou diversas vírgulas e afazeres gerais, fantasiou e praticamente ditou impossibilidades para este guardião. Ficou tão complexo que no final não sabia onde encontrar o amor e nem como reconhecê-lo na virada da esquina. Daí desistiu, queimou as folhas com uma eterna tristeza. Fez questão de esquecer a história criada e das suas reviravoltas prediletas. Foi um fracasso no amor e estava contente por isso. Refugiou-se na sua casa e começou a pintar as paredes para passar o tempo. Em uma dessas pinturas, fez uma caricatura sem cor, daquelas que temos os traços tão impessoais quanto um nome poderia dar. Mas ali, naquela simples pintura de traços, apaixonou-se perdidamente. Criou uma roupa, refez o jardim à frente e passava todas as refeições ali. Lia, contava as novidades e via o fim do dia ao lado do seu amor. Ela não esperou para saber como era o resto, atentou-se apenas ao rosto e ao sentir o perfume do pobre viajante cruzar o portão, soube que era o seu Romeu para tomar seu lugar ao lado.
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