Pela imagem todos sofremos os abusos mundanos...
Sorrateiramente bicou a porta dos fundos para adentrar a festa que nunca fora convidado. Serviu-se na sala das melhores entradas e petiscos... Bebida, como havia de sobra, pode experimentar, em doses altas e completas, para nunca mais esquecer dos sabores. As risadas dos outros em nada interferia no seu próprio gozo. Sentia-se, mesmo ali sendo alvo das maiores balbúrdias, um ser-humano realizado. Após o jantar e das diversas bebidas experimentadas, foi o álcool que ditou a sua conduta festiva. Cantou músicas de sua infância e dancinhas típicas dos quatro cantos do mundo... Nesta hora as risadas se transformaram em tensas gargalhadas, com toses e pegadas de ar... Alguém até se aproximou e filmou a cena... Com mais algumas doses, se virou ao seus pensamentos... Lágrimas surgiram na sua face, brotou uma estranha e perversa tristeza... Sem falar nada foi meditar na cozinha... Roubou um livretinho e escreveu... Suas angústias, dúvidas, amores e pensamentos... Lotou o livreto... Deixando-o para trás foi para casa aos prantos... Uma daquelas pessoas que riram, pegou o livreto e leu para os convidados reais... As gargalhadas foram transformadas em espanto, em brilhos e, para os mais sensíveis, pequenas lágrimas... A grafia era vivida e perfeita, sem rimas mas ritmada pelo mais belo sentimento... Tentaram, em vão, achar o sujeito... Sem nome e só com as palhaçadas feitas... Era essa a imagem que todos tinham... E nunca imaginariam que era um poeta...
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