E a pergunta foi lançada como chama: "E se você vivesse sem o infinito da descrição?". A garganta secou no momento da resposta, as mãos tremeram, os olhos perderam o foco e o chão pareceu sumir perante o horizonte. Se me tirassem o infinito, como eu iria sobreviver? Como eu teria o encontro de imagens que se transformam em linhas, que viram estrofes e depois terminam como rimas ancestrais? Como eu teria o sabor de um beijo, que personifica uma joia, que é lançada pelos mares, que é enterrada como tesouro e só consigo descobri-la através dos meus sonhos? Como eu poderia brincar com palavras, com objetos inanimados, com tintas escuras e borrões claros? Não teria a abstração companheira, não teria a paixão queimando meus sonhos, não teria o platonismo regando este imenso jardim e teria meu quintal desfigurado. Não teria um caminho para seguir, não teria nada... Mas limpei a garganta e respondi: "Seria o poeta do novo, do acaso, do estribo mais chocante e do irreversível caminhar. Cantaria em novos ritmos e faria novos sonetos. Tudo, tudo e tudo pela simplicidade de amar e mover meu corpo, para o desconhecido encontro da morte em vida, do amor no suspiro mais cadente e de ver pulsar um sangue que só é meu pela força absurda de sonhar".
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